quinta-feira, 28 de abril de 2011

CONSOLO

Memórias (Mistério) CONSOLO

CONSOLO

Em 2002, quando o meu patrão foi morto e a família dele abriu o supermercado logo em seguida, foi muito difícil, estar ali, sem ele.
O número de funcionários foi reduzido. Os poucos que continuaram, ficavam no primeiro andar, cuidando da liquidação das mercadorias.

Eu trabalhava sozinha no segundo andar. Havia uma escada que terminava num depósito. Ao lado tinha uma pia, e logo depois, a porta da minha sala.

Tavares tinha o costume de subir correndo aquelas escadas, lavava as mãos, e descia correndo, para ir almoçar.

Minha tarefa agora, era organizar a papelada em caixas, para que o pai dele levasse tudo pra casa.

Cada pasta que eu abria, era motivo para chorar. Xerox da identidade...agendas... lembretes.
Abri um bilhete que ele havia colocado na minha mesa três dias antes, onde ele pedia para eu providenciar o restante da rescisão de contrato de uma ex-namorada, porque ele queria solucionar todas as pendências.

Eu comecei a chorar de tal jeito, que nada me fazia parar. De repente...
Aquela torneira começou a jorrar água, como se alguém a tivesse aberto, por inteiro.
Eu parei de chorar e fiquei ouvindo.
Era impossível alguém subir aquela escada, sem fazer barulho. Ela era de metal.

Aquela água muita, jorrou durante uns trinta segundos. Depois, parou.
Eu continuei quieta... aí senti do meu lado direito, o perfume que ele usava.

30/01/2005